
Cinco dedos depois da noitinha caminho pela avenida Pompéia. O trânsito se aglomera. Paisagem de urbanidade ocasionada pelo enguiço do semáforo. Aproximo-me do American Bar no exato momento em que um táxi estaciona nos olhos de quem está por perto.
Um homem corpulento de chapelão de palha abre a porta traseira do carro de praça. Berra:
- Onde é o cabaré? Quero ir ao cabaré!
- Aqui é uma boate, meu senhor. Corrige-o o porteiro da casa com ares intelectuais.
- É cabaré! É cabaré! Reage o ex-passageiro do táxi com movimentos de quem já bebeu uns dez dedos de cachaça.
Permaneço e presencio o desenrolar dos acontecimentos. Eu e os transeuntes que se aglomeram à frente da Boaré.
Não demora, e o bigodudo de chapelão de palha, ao mostrar a carteira cheia de dinheiro ao encarregado da segurança da casa, que já se encontra na calçada tentando solucionar o tumulto com dois dedos de conversa, consegue entrar no estabelecimento de shows eróticos e afins.
Sem dosar a intuição fio-me, enquanto as pessoas se dispersam, que a vida que nos escapa pelos dedos é um teatro de variedades.
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