sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

MANICURE III


Na rua de outro dia de antes de ontem entro no salão de beleza. Procuro por Gotti, a manicure. Encontro-a debruçada sobre as mãos de uma cliente. Retiro o boné.
Longos, meus cabelos querem ser cortados. A preferência deseja as mãos de Cléo.
Assim acontece. Deixo-a escolher a melhor maneira do corte. Permaneço de olhos fechados no tempo da tesoura. Desde criança sinto aversão por espelhos. Os cabelos caem. Ferem, desencantam o chão. A arte de Cléo termina.
Gotti, livre, à espera de outras mãos, levanta-se sem sustos, sacode o avental polvilhado de pedacinhos de unhas e se serve de uma xícara com café.
Recoloco o boné. Digo a Cléo que algumas artes são transitórias, efêmeras. À Gotti prometo regressar em outro dia depois de amanhã com as unhas grandes, as garras afiadas.

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