sábado, 20 de junho de 2009

JANTAR DE AMANHÃ


Confusa a cidade, à noite, separa-se em cabeça, tronco e membros. O jantar poderia ser o ossobuco ou o matambre do açougue cubiforme. Mas não! O mar avança sobre os espinafres e os bois. Vou ao supermercado! Minutos depois, sob nuvem escura de tempestade, saio das compras com uma corvina, em postas, de quase três quilos. Ao retornar ao apartamento a chuva desabrocha o jardim dos guarda-chuvas. Entro na origem da moqueca. A cabeça, caldo à beça, e o pirão se forma na panela. O tronco favorece os ossos, as raízes de uma oceânica batalha pela sobrevivência. Os membros se locomovem pelas músicas das palavras e nado em pernas, pés, braços, mãos. O horário de dormir a sono solto chega feito a fome do navio zumbi. O peixe ficará mais saboroso amanhã. Pegará mais o teor dos temperos, salsa, coentro, limão, azeite-de-dendê e leite de coco. A cidade das separações, antes de se ferrar no sono, come arroz e carne louca.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

INTERESSOU? COMENTE!
: