quinta-feira, 24 de setembro de 2009

MORADIA


Águas nascidas nas nuvens entram na cidade pelas portas de cima. Lavam as entranhas do cimento corroído. Umidades nos passos quando, ao final da tarde, integro-me à solidão.
Pessoas e personagens passam tão próximas da moradia que a imaginação deseja, viro o corpo, tocá-las. Entro na casa à convite do portão aberto.
Na sala as flores e os pratos de porcelana morrem feito cartas de saudades, envelopes fechados no fogo. Velhos, paralíticos, doentes de mil doenças repousam nos quartos da morada. Jovens andam nos corredores a conduzir castiçais aos padecentes dos porões escuros da residência.
De súbito a ventania das chuvas nascidas na cidade dos textos tira-me desses aposentos tristes, fechados aos olhares.

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