quarta-feira, 30 de setembro de 2009

NADA SE PARECE COMO ANTES


Em ziguezagues a rua parada parece um fenômeno climático, interplanetário, parapsicológico. O sol lateja a claridade iluminando a dor do pulso de três mulheres sentadas em um bar sujo e escuro. Bebem doses de cachaça com querosene e se propagam em raios alfa, beta e gama.
Paralisia no corpo sentimental da matéria viva. Da cidade vem o cheiro do modo esquisito de o dia ser. Filas de desempregados inundam o oceano da esperança desfigurada. Nos telefones públicos, vermelhos ou azuis, cafetinas, gigolôs e putas colam o papel higiênico do cartão de visitas em busca do sexo incolor. A metrópole se espalha. Espelha a alma atônita do sol. Os outdoors se adaptam à rua parada. Nada se parece como antes.
As três mulheres em ziguezagues se levantam. Pagam os cambaleios com cédulas sujas de graxa. Entram na estação Àgua Branca e aguardam o trem para o subúrbio.

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