quinta-feira, 1 de outubro de 2009

PARECE MAS NÃO É


Um modo de retornar à cidade é ir de ônibus ao centro dos textos. Pessoas que não te olham nos olhos para não te ler. Palavras não deveriam ser esquecidas. Não ver para não crer.
Vi uma mulher morena, personagem de comercial de uma clínica de cirurgia plástica, cortar os próprios seios e tirar a roupa, calcinha fio dental, bunda arrebitada.
Vi a mulher da janela porque o ônibus parou ao lado de uma loja famosa de eletrodomésticos. Os aparelhos de TV em exposição na vitrina transmitiam making off da propaganda.
Farol verde.
Um modo de retornar aos textos é ir de ônibus ao centro da cidade.
Vi a mulher porque o ônibus já parou, farol amarelo, ao lado de uma loja de frios: copa, salame, peru defumado, presunto, salsichas, morcela, pastrami, fiambre, mortadela, bresaola, lombo canadense. As tripas finas e grossas enroladas em barbantes, dependuradas, fixavam-se nas paredes acima do balcão.
Farol vermelho.
Um modo de ter o que se lembrar é descer do ônibus no ponto errado.

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