domingo, 20 de dezembro de 2009

RETORNO DA MÃE


As horas de permanência se esgotam. São as horas da partida, minutos da despedida a preencher o tempo.
Nos últimos segundos dos minutos das horas de permanência um viajante esbaforido aproxima-se do ônibus. Segundo o motorista o atrasado está levemente alcoolizado.
Domingo. Terminal Rodoviário Tietê. Horário: 9h. Destino: Belo Horizonte, Minas Gerais. O zonzo entra no ônibus. Ao ver a minha mãe na poltrona 3 lhe estende a mão. Balbucia algumas palavras. O ônibus parte.
Agora à noite fico sabedor das palavras ao falar com ela, já em Belo Horizonte, ao telefone:
- A senhora me conhece? Apareci na televisão!
No instante em que ela concordou em cumprimentar o eufórico folgazão constatei, na minha visão, que a viagem poderia ser desagradável. No momento em que o gosto da saudade começou a me preencher, o falastrão olhou para a passageira da poltrona 3.
Para a minha mãe o som das palavras do ébrio não lhe era audível o suficiente para lhe dar entendimento. Fez, então, o que faria outra pessoa tranquila, sem os pavios curtos: retribuiu-lhe o cumprimento.
Só depois que a passageira sentada na poltrona 4 aproximou-se dos ouvidos da minha mãe e repetiu-lhe o que o chamativo viajante lhe dissera, é que ela o respondeu em bom tom:
- Não conheço o senhor! E nunca te vi na televisão!!

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