
Sem definição e glossário o frio deixa devagar, quase imperceptível, a cidade dos textos. Esvai-se dentro da noite dos cobertores, meias, luvas, viadutos residenciais, abrigos e albergues lotados por anônimos duques e condessas, imperadores e reis de uma ficção parelha à realidade. Corridas de bigas, duelos de metralhadoras, milagres das tecnologias, estômagos ocos e as famigeradas comilanças executam as festividades do encerramento do frio e da abertura dos descongelamentos. Rio, cachoeira, água-benta, óleo diesel, álcool e gasolina petrificados começam a derreter. Trazem à tona as pontes, os viadutos dos anéis rodoviários, os altares de mármore, os monumentos de bronze, ferro e aço. Diante das catedrais e dos magazines operários e mendigos, trombadinhas e cheiradores de cola, ambulantes e ilusionistas, sem-terras e sem-tetos, empregados e desempregados mexem os dedos congelados, esperança, enquanto o sol, magro, surge das brumas.
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