quarta-feira, 3 de junho de 2009

ITO


Vim buscá-lo. Procedente de Minas Gerais um anjo desembarca na cidade dos textos. Faz muito frio. Ao chegarmos em casa o solícito visitante abre o chuveiro cosmopolita. Assuntos diversos. A grande quantidade de camisas, coletes, japonas e escumilhas estica-nos, dialeticamente, dos manuscritos medievais até aos calorosos Ludwig Van Beethoven, Jim Morrison, Agenor de Miranda Araújo Neto, o Cazuza, Mário e Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Semana de Arte Moderna de 1922, Gláuber Rocha. Falamos também de Judas Iscariotes e Joaquim Silvério dos Reis. Sem linha de defesa bebemos conhaque e cerveja. Lá pelas tantas a ceia é servida. A madrugada libertária de baixos graus centígrados traz uma outra manhã ainda mais gelada. Assim mesmo penetramos nas ruas. A caminhada é o nosso exercício mais paisagístico. Andamos léguas negreiras. Encontramos uma embarcação carcomida pelo tempo: submarino ou navio?
E hoje, anos depois, exatamente agora ao ler o jornal, lembro-me do anjo visitador ao saber que um iate de 22 metros de comprimento deixou a cidade em polvorosa. Ao ser transportado de um galpão até um terreno o reboque que puxava a embarcação quebrou, deixando-a à deriva no meio da rua.

Um comentário:

  1. Meu caro Rogério, que honra está no seu Blog. Esta história que nós vivemos em Sampa.Quando o tempo não nos congelou os ânimos,nem os ânimas. Lembro-me com nitidêz daqueles dias. E de tantos outros que compartilhamos. Obrigado pela lembrança e considerações registradas neste texto. Abraços! Wilton ou ito (se preferir).

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