terça-feira, 9 de junho de 2009

INTERFONE


Escuto, momento, o interfone tocar. Escutei mesmo? Abaixo o volume do som da televisão. Diminuo a intensidade da música do rádio. Fecho as janelas obstruindo barulhos do trânsito e das britadeiras na reforma da rua perpendicular. Retiro a panela de pressão do fogo. Derramo água fria sobre a tampa. Torço e rezo para o vizinho do apartamento de cima terminar rápido o uso da furadeira. O interfone, branco e impoluto, persiste silencioso. De onde se origina o momento no qual escuto o interfone tocar? Uma vez senti que o momento poderia vir de uma noite na cidade dos textos onde uma mulher de mãos dadas com a lua fosse a sentinela de um sol a caminho. Aumento o som da televisão, da música do rádio. Reabro a janela. Retorno a panela de pressão ao fogo. Não torço e não rezo mais. O pensamento habita no ar. Gira pelas parabólicas, poeiras, fumaças, paredes, pelos chiados, asfaltos, parafusos e relógios. Encontra o momento no qual, outra vez, escuto o aparelho eletracústico tocar.

2 comentários:

  1. Oi Rogério, faço hoje uma visita ao seu blog! Grata visita, porque gosto do seu jeito de jogar palavras e linká-las em torno de um eixo, mesmo que seja em meio a tantos sons. Muito bom, bjs

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  2. Textaço!!! Com poucas palavras você sintetizou a gigasonografia urbana, ou melhor, metropolitana. O vazio de insignificantes sonoros.

    Brrrrrrruuuuuueijos...!!!

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