
Com um salto ela surge quando eu me encaminho aos textos. Escadas sobre a linha de trem. Ando mais rápido de dois em dois degraus. Ao final da escadaria ficamos rentes, parelhos. Morena de estatura alta com tranças de aplique. Penso que ela não me dirá nada. Ilusório silêncio. - Onde é a estação de trens? Quero pegar um! Insiro-me dentro dos seus olhos com a resposta na ponta da língua. - Você quer ir para onde? -pergunto-lhe. - Ao circo procurar emprego. Sou trapezista. -responde-me. - A entrada da estação é logo ali à esquerda, antes da linha do trem. O caminho que nos resta é pouco, diminuto, expresso. Chegamos à beira dos trilhos reluzentes. Ela me agradece, vira à esquerda e se vai. Eu atravesso. Olho para os lados. Sinto o erro a me ferroar. O trem que se destina ao local do circo não vem da esquerda para a direita; e sim da direita para a esquerda. Sim. Quero retornar. Reencontrar a morena, a trapezista, a medusa rebolante. Dizer-lhe do meu engano. Redimir-me perante os seus olhos saltitantes. Nada disso faço porque fico parado, concentrado, estático. Presto atenção no horizonte da espera. Quem sabe ela dará um outro salto mortal e mudará, assim, as direções...
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