quinta-feira, 9 de julho de 2009

COLETOR


Por ser tão cedo, e esse horário me acalenta, o coletor ainda ausente está a caminho. Eu, sentado na cadeira na sala de espera do laboratório de análises clínicas, espero o coletor olhando fixo os dedos agéis da digitadora. Seringas e braços passam à minha frente. Choros infantis e mães zelosas compõem o cenário auditivo dos receios que antecedem, nesses casos, as dores. Removo os meus olhares dos dígitos. Na parede um relógio repete as horas. Assim ele, o coletor, poderá a qualquer momento chegar. E chega mesmo!
Alto, moreno, magro, calvo, bigode antigo, roupa branca. Fala o meu nome como se eu fosse o próximo. Na verdade eu sou o primeiro do dia. Conduz-me ao aposento da poltrona-maca. Mostro-lhe a lesão. Com cotonete recolhe as secreções. Guarda-as em lâminas de vidro. O exame termina.
O coletor continua a chamar as pessoas. Algo me diz no íntimo que o nome dele é Aldabran Juramento. Não sei o porquê.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

INTERESSOU? COMENTE!
: