terça-feira, 1 de setembro de 2009

CRIME (LARGO PAISSANDÚ)


O ar, centro da cidade dos textos, pesa sobre os ombros.
O Largo Paissandú, tantos ônibus nas redondezas da igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, passarela de tipos humanos e modelos cósmicos, recebe os últimos raios de sol em tique-taques monocórdios.
Súbito, um tiro atinge o peito do centroavante do Concórdia Futebol Clube, time de várzea de pura e violenta periferia. O negralhão de camisa e calção vermelhos, meias brancas, chuteiras, cai de boca na calçada com o projétil instalado no centro do impacto. A multidão circunda o cadáver.
A polícia afasta o povo com o cordão de isolamento. Sirene, a ambulância sobe, meio-fio, ao vasto espaço público, glamour de degradação, dos fascínios das putas e desocupados. O defunto é transportado ao Instituto Médico Legal(IML).
Transeuntes se perguntam quem teria sido o autor do disparo. Autoridades políticas, delegados, federais, detetives e profetas prometem à população, passantes e andarilhos levar a investigação a fundo e rapidez nos resultados.
Depois que os equipamentos da mídia são retirados do crime as pessoas se dispersam. Sem ser o centro do universo, o Largo Paissandú faz a cidade retornar à órbita em torno do outro dia, o mesmo ar.

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