terça-feira, 17 de novembro de 2009

ALMOÇO DO LANCE LIVRE


Com passos decididos entro no restaurante Salada Record.
Não sinto o que me experimentava em outras tardes nas quais, invisível, eu ficava à espera do peixe e dos legumes.
Um casal, em uma mesa próxima, almoça com animações e safadezas. Ele, de paletó e gravata e bigodinhos, sucumbe-se às comidas e à acompanhante. Ela, morenaça alta, vestido curto, pernas cruzadas sob a mesa, fala e bebe de forma alvissareira.
Continuo a mastigar o pão, a derramar o azeite na manteiga. À espreita, aguardo o momento súbito, insofismável. A mulher descruzará as pernas a qualquer momento. Verei a floresta, o mar, a onda.
Puxo-me para a esquerda, direita. Estéreis esforços porque parte de uma toalha está caída sobre outra mesa mais próxima à mesa do casal, já em processo de triunfos, e tampa-me a visão das pernas morenas se descruzando.
Eu cego diante do peixe e dos legumes à alho e óleo apalpo o almoço sem saciar a fome obscena.
Após pagar a conta atravesso com passos indecisos o salão dos amantes.
Visível vou para fora da avenida São João.

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