quinta-feira, 26 de novembro de 2009

VAZANTE


Um livro sem palavras vira um caderno sem linhas impressas. A vida se esvai como um rio seco, panela rasa com água e detergente que, ao ferver esquecida, evapora a espuma criada.
Passa a vida entre os dedos. Não há controle, domínio. Mãos perplexas diante da ilusão, dos vazamentos do tempo em busca do nada.
O corpo se oxida. Flores são jogadas fora. Fogem na correnteza esmaecida do rio. Instalam-se nos ossos dos mortos, arquétipos de tijolos, inspirações aos jardins de uma outra vida.
E a vida se multiplica em outros tempos metidos em outros corpos. A água retorna às nuvens, que fornecem sombras aos campos e às cidades. As mãos seguram com ímpeto a força das correntezas futuras dos rios.
Panelas fundas, com ideias e cores, fazem com o fogo as cozeduras dos frutos e pães colhidos nas palavras sempre lembradas de um livro: o amor não se finda.

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