sábado, 26 de dezembro de 2009

ALMOÇO DAS IMAGENS ESFOMEADAS


Duplo ritmo faz parte do rosto que vislumbro diante dos azulejos de usos encardidos. O banheiro do restaurante Salada Record não possui espelhos. Do lado de fora, acima da pia, no espaço do lavatório, há uma vasilha de vidro contendo sabonete líquido.
Detrás do balcão, cartazes fixados na parede à moda dos salmos litúrgicos fornecem em letras vermelhas e azuis os nomes das iguarias e acompanhamentos que são preparados para o consumo dos trabalhadores em geral e transeuntes quando a hora da fome aperta.



Hoje almoço mais uma vez no Salada Record. Estou no hall do cine Marabá, sentado em uma poltrona, depois de me posicionar diante de cada cartaz dos filmes que virão a seguir, aguarde, breve. Saboreio chocolate enquanto o filme, sessão das 15h45, não começa.
Aproveito metade do tempo que passa rápido e vou ao banheiro do cinema. No restaurante lavo as mãos. Sento-me à mesa de onde posso ver com clareza a televisão ligada em um filme de outra sessão. O garçom se aproxima:
- Filé de pescada à dorê, legumes?
- Hoje vou querer mudar a película. Traz o salmão grelhado acompanhado de arroz e brocólis à alho e óleo. Estou de olho nesse peixe não é de hoje.

Quando termino o almoço o gelo derretido fornece ao copo a umidade lírica da outra metade do tempo que passa rápido. Meu paladar, audaz e ainda réfem dos desejos da sobremesa, estende-se ao chocolateiro ao lado do cinema.

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