terça-feira, 1 de dezembro de 2009

CIDADE SONORIZADA


Em qualquer lugar da cidade dos textos os telefones tocam. Os sentimentos atendem os chamados dos dias vazios.
Sirenes das viaturas policiais assombram os sentidos da população nos atalhos dos assassinatos das palavras.
Nas lojas modernosas as televisões ficam ligadas em alto-volume.
As buzinas dos automóveis sonorizam a existência das ruas, dos congestionamentos e dos pedestres que vivem a caminhar de cabeça para baixo, cuspindo no asfalto salivas de diversos sabores: hortelã, limão, framboesa, abacaxi, laranja, maracujá, cereja, uva, guaraná.
Bolas de plásticos recheadas de oxigênio explodem nas mãos pálidas das crianças como se o ar estivesse misturado a pontiagudas partículas.
Os choros desmesurados dos recém-nascidos não tem fim nos berçários das maternidades. Das tetas das mães jorram leites gritantes.
E nos velórios e cemitérios as lágrimas das perdas berram sussurros explosivos.

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